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O artista da programação

 

Robson Branco é o típico profissional de Internet: workholic, antenadíssimo com as últimas tecnologias e vidrado em seus projetos. Está coordenando o desenvolvimento do primeiro portal condominial brasileiro, o ICONDO.com.br, que entrou no ar dia 8 de agosto e já  recebeu um investimento de US$ 2 milhões. Robson está no mercado de desenvolvimento há 12 anos, e bem antes de ter se apaixonado pelo Delphi, chegou a construir uma enorme folha de pagamento em QuickBasic. Típico desenvolvedor que ama sua profissão, ele classifica a criação de software como arte, a chamada ‘pintura dos bytes’. Confira nesta entrevista porque o Delphi foi escolhido como plataforma de desenvolvimento do ICONDO e como isso tem influenciado o projeto.

 

ClubeDelphi: O que é o ICONDO?

 

Robson: É um portal que atua no mercado de administração de condomínios. Ele já está sendo tratado como o maior acontecimento neste mercado desde os últimos 15 anos. O site ainda é muito novo e representa somente 30% de sua potencialidade. O mais interessante neste portal é que ele não provê apenas conteúdo, mas também serviços, se tornando uma ferramenta, um aplicativo nas mãos do condomínio. Por exemplo, o usuário pode extrair balancetes, verificar se um salão do condomínio estará disponível em determinada data, entre outras possibilidades. É o que podemos chamar de ASP, ou Aplication Server Provider. É o que temos de mais novo na Internet, uma aplicação totalmente online.

 

ClubeDelphi: Totalmente gratuito?

 

Robson: Não. Eu acredito que esta época do romantismo de “vamos deixar tudo de graça” já passou. Acho que não há mais espaço para empresas ponto com que pretendem sobreviver somente com os recursos de investidores, ela tem que dar lucro, e para isso precisamos cobrar alguma coisa. É claro que o “grátis” gera um marketing muito positivo. Muitos serviços no ICONDO são free. Mas para usar toda a potencialidade do portal, o condomínio deve pagar uma pequena taxa.

 

ClubeDelphi: Parece que em breve teremos aplicações somente online.

 

Robson: Esse é inclusive o meu sonho.A energia que se gasta hoje para manter esses desktops ativos já chegaram  a consumir 50% de nosso custo. Com o ICONDO é diferente, podemos lançar uma versão diferente do software a qualquer momento.

 

ClubeDelphi: Por que o Delphi?

 

Robson: Nós já tínhamos uma cultura de Delphi. Já trabalhamos com essa ferramenta  desde a sua primeira versão, e quando vi que o desenvolvimento para Internet no Delphi seguia a mesma filosofia, a mesma sintaxe, o Delphi me pareceu a opção mais confortável. Se fossemos migrar para uma outra ferramenta, teríamos que retreinar todo mundo, jogar fora toda a experiência adquirida com a linguagem. Já tínhamos muito código, muita coisa pronta que poderia ser reutilizada para Internet.

 

ClubeDelphi: Mas você chegou a comparar o Delphi com outras tecnologias para Internet?

 

Robson: Sim. Inclusive eu conheço bem algumas tecnologias, como o ASP. Já desenvolvi uma solução em ASP, e também conheço o ColdFusion. A primeira coisa que percebi é que o ASP não é uma ferramenta completa. Se você precisar expandir o que o ASP faz, terá que usar outra linguagem, como C++, Visual Basic ou até mesmo o Delphi. Outro ponto é a não distribuição da carga de processamento, coisa que o Delphi já faz há anos, através do Midas. E finalmente a performance, muito inferior quando comparado com o Delphi.

 

ClubeDelphi: E o custo das licenças, não equilibra a balança, já que o ASP praticamente é de graça?

 

Robson: Sim, esse realmente é um dos grandes problemas de desenvolvimento Delphi no Brasil. Uma licença Enterprise custa em torno de três mil reais, e ainda é necessário que se tenha uma para cada desenvolvedor. Porém, nosso projeto recebeu um alto investimento, o que nos permite ter acesso às cópias necessárias. Já uma pequena softwarehouse pode ter grandes dificuldades de manter todas as licenças. Também não concordo com a política de atualização, não acho muito favorável, o custo para atualizar um Delphi é muito alto. Eu acredito que oitenta por cento das cópias de Delphi no Brasil sejam piratas.

 

ClubeDelphi: Qual e estrutura técnica envolvida?

 

Robson: Temos um link direto com a Embratel, mas nosso servidor está residindo em um provedor. Preferimos não estacionar o servidor dentro da empresa, isso iria gerar custos. É um Windows NT, com SQL Server sendo acessado pela BDE.

 

ClubeDelphi: CGI ou ISAPI?

 

Robson: ISAPI.

 

ClubeDelphi: Como você tem feito para atualizar as DLLs ISAPI no Windows NT?

 

Robson: Na verdade, a experiência nos trouxe um método de trabalho. Na primeira fase, nós desenvolvemos localmente, através do Personal Web Server, com CGI. Após a CGI estar testada e aprovada, nós a convertemos para ISAPI e fazemos o upload para o servidor. Quando, infelizmente, precisamos atualizar alguma DLL no ar, temos que baixar o Servidor Web, não tem jeito.

 

ClubeDelphi: Por que SQL Server?

 

Robson: Porque considero o banco de dados mais fácil e prático. O Oracle é muito bom, mas não é tão produtivo. O Interbase é de graça, mas quando o projeto recebe um investimento de alguns milhões, você descobre que o banco de dados é o menor custo da história.

 

ClubeDelphi: No lado cliente, só HTML?

 

Robson: Do lado servidor, só Delphi. Do lado cliente, HTML 4, por sua compatibilidade  com os browsers do mercado. Pelo mesmo motivo, não implementamos a XML, pois percebemos que uma grande quantidade de ‘browsers’ ativos ainda não suporta esta tecnologia. E toda a validação de campos é feita em JavaScript.

 

ClubeDelphi: Quantas sessões de usuários o site tem recebido?

 

Robson: Estamos a quinze dias no ar, e até hoje tivemos uma média de 200 sessões/dia, sem publicidade. A estrutura montada está preparada para atender muito mais.

 

ClubeDelphi: Houve alguma dificuldade para encontrar profissionais com o perfil necessário para este projeto?

 

Robson: Esse é um grande problema. Se eu fosse procurar um profissional com sólidos conhecimentos em Delphi, SQL Server, Modelagem de dados, JavaScript, HTML, etc. estaria limitado a uma jóia rara. Nós decidimos treinar profissionais. Os requisitos eram o conhecimento de Pascal e SQL. A partir disso, nós treinamos as outras ferramentas, como Delphi e SQL Server. O segundo problema é segurar os profissionais depois de treiná-los, já que o seu passe se torna muito mais valorizado. Estamos também sempre investindo em estagiários, formando profissionais de base, como uma escolinha de futebol. Uma das grandes vantagens dos estagiários é que sua adaptação é muito mais fácil, pois ele não possui paradigmas ou vícios. Ele se adapta a filosofia de trabalho da empresa mais facilmente.

 

ClubeDelphi: É muito difícil encontrar um profissional em Delphi que seja bom de  “design”. Como você tem realizado o design das páginas de resultado geradas pelos scripts?

 

Robson: Nosso projeto se dividiu na criação, produção e execução. Eu consegui profissionais bem distintos, a equipe de criação da identidade visual, que já não serve para a produção, porque repetir a identidade visual várias vezes não é praia desta equipe. O segundo passo foi a produção, ou seja, criada a identidade visual, vamos produzir as páginas. Uma grande dificuldade que encontramos foi as meta-tags utilizadas pelo Delphi. Os editores de HTML não entendem essas tags, e acabam alterando o conteúdo da página. Praticamente todos os editores trocam as tags. Até o HomeSite, que tenta não mexer, altera o código quando você entra na parte visual. Talvez, se os símbolos utilizados pelo Delphi fossem colchetes ou chaves, não teríamos esse problema. Mas como é o sinal de maior e menor, todos os editores se complicam. Uma coisa que nos preocupamos muito também é que um site na Internet não tem ajuda. Antigamente, o usuário comprava o software e recebia o manual de operações. Na Internet isso não existe, o máximo é um rápido ‘dicas e truques’. Temos que desenvolver um aplicativo auto-suficiente, o site tem que ser o mais intuitivo possível. O usuário tem que olhar, ver e entender.Esse é o nosso desafio.

 

ClubeDelphi: Agora que o projeto já está no ar, qual a sua opinião final sobre o Delphi como ferramenta para Internet?

 

Robson: O que acontece hoje é que é possível desenvolver uma aplicação desktop 100% de forma visual, sem praticamente nenhuma linha de código. Hoje, nós voltamos um pouco no tempo, uma aplicação para Internet necessita de muitas linhas de digitação. Se conseguirmos empatar isso, o desenvolvimento Internet alcançar a evolução do desenvolvimento desktop, aí sim teremos a ferramenta ideal.