Consumindo Portabilidade

 

Luiz Sergio Nacinovic - lsnvic@hotmail.com

 

* Artigo submetido ao concurso Entre para o Mundo Mobile

 

Não é necessário mais parar para se fazer alguma coisa. Portabilidade virou sinônimo de tecnologia. O indivíduo deixou de lado o ser uma ilha isolada e hoje está dotado de movimento, navegando por um oceano de possibilidades infinitas. Se na era analógica o coração capturava o que a antena captava, na era digital a situação se inverteu. O coração hoje dispara torpedos sedutores na captura de semelhantes. Basta ter na mão um celular, um PDA ou um notebook. Se antes cada ser humano era uma ilha, distante milhas e milhas, hoje esta mesma ilha é um veículo de si próprio. Chegamos à terceira margem do rio que a humanidade atravessa, desde que iniciou o registro escrito de suas atividades. Hoje, o caminho é de volta, num retornar espelhado e repleto de referências. Basta estar conectado. Quem falou que todos terão seus 15 minutos de fama estava certo. É só ter uma página pessoal na rede. Lá , todos os seus dados, avais, chaves e preferências estarão a disposição de  todo um mercado. A diferença entre consumidor e consumido é apenas a letra “r”. Também na rede está o dado que você precisa para ter a informação certa no momento exato. Falhas e indecisões integram um dicionário que você vai acabar jogando no lixo. O mesmo lixo onde está aquela máquina de datilografar, o walkman com fita cassete, a máquina fotográfica Instamatic e o Pager. Sem direito a backup ou a recycle bin.

É bom lembrar que, há pouco tempo atrás, eles eram o máximo em tecnologia portátil. Mas, a portabilidade hoje, além da mobilidade, agrega também integração.

Tudo concentrado numa mesma porta de entrada, que pode ser o PDA, o celular ou qualquer outro gadget que, em uma só peça, transforme seu portador num transceptor de dados e processador de informações.

Como já diria Alvin Toffler, de iniciantes passaremos todos a usuários. E chegar a este estado significa que não existe um retorno, pois nunca mais seremos iniciantes em coisa alguma. Já consumimos portabilidade agregada a tecnologia de uma forma absoluta e completamente indissociável. Exemplo? Deixe seu celular desligado. Ou então desconecte o cartão PCMCIA wireless de seu notebook. Duvidamos que você faça qualquer uma dessas duas coisas.

Essa certeza resultante é que impulsiona pesquisas e descobertas na área no sentido de simplificar e automatizar tarefas ao nível do “liga/ desliga”, pelo método UUD de digitação(UmÚnicoDedo). A portabilidade só terá final se a mobilidade apresentar sinais de paralisia. E o modelo que está sendo seguido não admite mais nenhuma interferência.

André Vargas, gerente de produto de Telecomunicações da SAMSUNG, vislumbra a portabilidade e a mobilidade, transformando celulares e PDAs, em um grande controle remoto gerenciador de vidas pessoais, profissionais , destacando o usuário/portador para o centro das atenções, esteja em cada ou no ambiente de trabalho. “Em médio prazo, todos os equipamentos essenciais estarão interligados a telefonia móvel e PDAs”, informa André. Segundo ele, essa integração total acontece num prazo máximo de cinco anos. A portabilidade e a mobilidade vai ter poder de mercado. E todos se adequarão a isso, mostrando a inexorabilidade da revolução tecnológica que estamos atravessando.

A multimídia interativa a uma tecla de distância!

A primeira coisa que está sofrendo uma mudança drástica em seu formato e oferecimento é o fornecimento de conteúdo. O WebJornalismo vai crescer com a portabilidade, colocando a TV, o Rádio e a mídia impressa como as conhecemos na estante. O estático já está conhecendo seu último parágrafo, com o tráfego em sentido único, na direção emissor-receptor na penúltima letra da última palavra da última linha. Depois da última letra impressa, o ponto final.

O paradigma do papel impresso como mídia de armazenamento e consulta posterior está chegando ao fim. O texto interessante ou necessário passará por um download e será impresso no hardware do consumidor. Essa prática já é corrente nas redações da imprensa diária.

Quem acha o que foi falado acima uma previsão a longo prazo está redondamente enganado. Todas as mídias já concorrem na Web, gerando um espaço virtual multifacetado, fazendo de um evento vários planos integrados e interagentes. A imagem, o áudio e o videotexto farão do fato gerador uma enquete permanente entre emissor e receptor, cooptando a pesquisa como mais uma referência de conteúdo para comportamentos e atitudes.  Falta apenas a determinação dos parâmetros necessários para a confecção do conteúdo dirigido à janela em questão. Da mesma forma que a mídia impressa teve seu manual de redação, o manual de confecção de interfaces está próximo. Isso é uma questão de tempo.

Decidindo o Conteúdo

A informação imediata possibilitará a decisão imediata, em sistemas de apoio diretos e sem intermediação. Na economia, a movimentação de posições fará da Bolsa de futuros um tabuleiro de xadrez infinito, com o vencimento de contratos acontecendo a qualquer hora. Basta consultar a Bloomberg News. Ela dispõe de Browser PDA que pode ser acessado no site

www.bloomberg.com/tv/

 A especialização terá um ponto final com a multimídia sem fronteiras definidas e completamente prêt-à-porter. Vem aí a criatividade total. E ela será um dos fatores decisivos para a formatação e a criação de um padrão básico para o conteúdo oferecido, já que os padrões atuais vêm-se mostrando completamente falhos e sem atrativos. Mudou o espaço e, em nome da portabilidade, as telas e janelas ficam cada vez menores.

Interfaces Amigáveis e Atraentes

Essa vai ser a alma da coisa. A interface. Ela será a porta de entrada do WebJornalismo como webservice multidirecionado, incluindo PDAs e SmartPhones. Quanto ao WebJornalismo, este ainda está muito dividido na tentativa de impor padrões de conduta. Assim o que se espera é que alguém , com insight e criatividade, chegue a um padrão que implemente uma linguagem a ser definida como formato RTF e não- proprietário, pelos geradores de conteúdo concorrentes, no sentido de que a interação seja completa e de uma integração a toda prova. Se formos tomar um exemplo dentro da própria indústria cultural, a guitarra elétrica, apesar de inventada em 1948, só foi ter sua linguagem instrumental definida com o som de Jimi Hendrix, nos anos 60. Assim, não custa nada esperar por uma definição completa e acabada.

Pelas teorias do WebDesign( Shneidermann e Jacobson), a interface deve passar ao usuário tranqüilidade, rotina, livre acesso e entendimento, dando satisfação e gratificação no seu uso. Uma interface confusa e repleta de “cliques aquis” levará à completa confusão visual, gerando toda uma apresentação caótica, convidando o próprio usuário a dar um basta e ir procurar informação em outro ponto de parada. Assim , todo cuidado é pouco no sentido de atrair o usuário e fidelizá-lo, num formato bem diferente do marketing de finalização praticado hoje em dia, repleto de penalizações para o usuário que descumprir o contrato.

 

WebJornalismo: o que já existe a disposição

Não existem mais barreiras. O conceito e a visão clássico- romântica de uma redação como se fosse um grande servidor concentrador de serviços, de distribuição de tarefas e crises de mitomania já era. O chamado WebJornalismo só não ganhará mobilidade se os executivos responsáveis pela gestão empresarial das propostas forem avessos ao upgrade( e a mitomania!).

Até os notebooks tradicionais já podem implementar as novidades como um concentrador, já que uma série de aplicativos- emuladores são encontráveis no mercado, gerando webservices com a visão já ajustada no sentido de que o ex-jornalista padrão e atual produtor de conteúdo, tenha  a mesma impressão do produto final em exibição no receptor/ smartphone/PDA do usuário pretendido.

O repórter, o editor de texto e editor de imagem estão fundidos num único posto de trabalho: o gerador de conteúdo. Os factuais instantâneos já estão sendo editados no local onde foram gravados, graças aos prodígios obtidos pela última geração de WebCâmeras e aplicativos para edição não linear, com áudio e vídeo balanceados de forma digital. Para tecnologia da informação, a era analógica está definitivamente enterrada.

O Software – dois sistemas operacionais disputam o mercado smart e PDA, o Windows Móbile e o PalmOS. O Windows Móbile e o novo nome para o Windows CE. Segundo o Gartner Group, a competição entre os dois OS está acirradíssima. Os especialistas estão mais confiantes no OS da PalmSource devido a seus desenvolvedores já terem a experiência de um OS para hardware tradicional(BeOS), descontinuado por razões várias e tornado open source. A plataforma J2ME, geradora de aplicativos em Java, escreve na medida para qualquer um dos OS e também para a maioria dos OS utilizados pelos PDAs e Celulares das grandes marcas.

Toda a formatação e padrão de arquivos obedece ao disposto pelo SOAP( Simple Object Access Protocol), WSDL, UDDI  e os padrões de descoberta dinâmica. Para quem já se acostumou com FrontPage e Dreamweaver, o salto no escuro não será em um abismo.

O Hardware – Um Notebook de última geração, com tecnologia Centrino, um HD de responsabilidade( responsabilidade = capacidade acima de 60Gb) com portas USB e docas para cartões PCMCIA em profusão é a nova central de operações do Produtor de Conteúdo. De qualquer local o produtor poderá se conectar ao servidor central repassando todo o material necessário. Se for o caso, ele terá como fazer login para editar uma instância do veículo, a ser distribuída aos usuários e assinantes.

Um modelo desse servidor é o já utilizado nos portais que fazem streaming de vídeo, distribuindo a ALLTV e os telejornais do UOL, Terra e iG.

A outra opção são os PowerBooks da Apple, com todos os benefícios, simplificações e velocidade da tecnologia RISC. Apesar do custo alto, o produto final tem a garantia de que não vai travar, dar pau ou corromper, coisa que a tecnologia CISC perde em valor agregado. Confiabilidade. E, nesse quesito, a galera de Steve Jobs dá de dez!

Quanto ao gerador de conteúdo, sua ferramenta de trabalho será algo semelhante ao Nokia 9500. Com equipamentos deste tipo é possível qualquer tipo de conexão, possibilitando reuniões de pauta, apurações e consolidação de edições nas situações mais adversas. As barreiras agora são apenas as imaginárias e éticas.