Do que se trata o artigo:

Este artigo apresenta uma definição sobre o uso de servidores e ativos de redes e a importância de monitorar uma rede de computadores. Apresenta também ferramentas de monitoramento e um estudo de caso com o Nagios, uma ferramenta para monitoramento de servidores e ativos de rede.

Para que serve:

Para auxiliar os administradores de rede a configurarem seus ambientes de monitoramento, mostrando a importância de se ter uma rede monitorada. Apresenta também os procedimentos para configuração e uso da ferramenta Nagios.

Em que situação o tema é útil:

A utilização de serviços baseados em redes de computadores, além de mais cômodos, já que é possível acessá-los de forma remota, também contribuem para a rapidez e eficácia das comunicações como um todo. Entretanto, para que estes serviços sejam utilizáveis, há uma dependência de que servidores e ativos de redes estejam funcionando corretamente. Neste sentido, o monitoramento de servidores e ativos de rede se apresenta como uma solução rápida e eficaz para identificação de problemas, impactando diretamente no índice de disponibilidade destes equipamentos.

Autores: Renata Aparecida Benini e Marcelo Santos Daibert

Com a evolução tecnológica, um importante diferencial que impactou a sociedade e impacta sobre medida os negócios são as redes de computadores. O que hoje é conhecido como Globalização (um fenômeno de integração política, cultural, social e econômica), foi impulsionado graças ao achatamento conceitual do globo terrestre, em especial ao avanço dos transportes (não há distâncias intransponíveis) e ao avanço das telecomunicações. Assim, as redes de telecomunicações passaram a ser uma necessidade para o estágio atual de evolução de nossa civilização. Deixou de ser um luxo, para ser um importante marco estratégico de empresas e necessário para as vidas de cidadãos comuns.

A tecnologia da informação teve seu avanço na década de 50 quando surgiu o primeiro sistema de computador, baseado em sistemas de informação e equipamentos complexos para armazenamento de informações, operados por pessoas altamente especializadas. Como tudo que envolve a informática teve um avanço muito acelerado, com as redes de computadores não foi diferente. Depois da fusão dos computadores com as comunicações, houve uma profunda mudança na forma como os sistemas computacionais eram organizados. O velho modelo de um computador atendendo a todas as necessidades computacionais de uma empresa foi substituído por um conjunto de computadores autônomos interconectados que podem trocar informações, conhecido como redes de computadores.

Na década de 80 as redes de computadores ganharam importância, especialmente com a diminuição dos custos dos computadores, tornando cada vez mais atraente a distribuição do poder computacional em módulos com processadores localizados em diversos pontos de uma organização. Assim, o uso de rede para compartilhamento de recursos passou a ser indispensável no cotidiano de uma empresa, e passaram a ser usadas também em ambientes domésticos. A rede de computadores não se limita a Internet, e está presente em várias atividades do cotidiano. São utilizadas em serviços bancários, no uso do cartão de crédito, em chamadas telefônicas, entre outros. Percebe-se que a cada dia há uma dependência maior na utilização destes serviços e, por consequência, na utilização das redes.

Nesse contexto, o uso de um computador sem que esteja conectado a uma rede está ficando sem utilidade. A facilidade e comodidade que é adquirida utilizando os serviços de rede fazem com que haja dependência desses serviços. Se o serviço de rede de uma empresa estiver inativo, todos os departamentos, diretamente ou indiretamente, são afetados. É comum, inclusive, que os serviços de uma empresa fiquem ligados a um computador servidor, onde é provido acesso a um sistema ou responsável pela comunicação interna (ler Nota DevMan 1).

Nota DevMan 1. Servidores e Clientes

Os servidores são sistemas que fornecem os serviços de redes, como por exemplo: e-mail, arquivos, web, impressão, compartilhamento de dados. Os servidores são responsáveis por gerenciar recursos de hardware (como disco e memória), de software (como planilhas e sistemas), e compartilhar informações (como o banco de dados de uma empresa). Já os clientes são aqueles que acessam os servidores e fazem de alguma forma uso dos serviços providos.

O rápido crescimento e a proliferação de novas tecnologias têm mudado as características das redes de computadores nos últimos anos. O monitoramento, em tempo real, da infraestrutura de redes e seus ativos vem se tornando indispensável na gestão da tecnologia da informação. Este monitoramento permite obter as informações necessárias sobre estes equipamentos de modo rápido, sintético, preciso e confiável, facilitando as tomadas de decisão do gestor no momento do planejamento, adequação e expansibilidade do parque tecnológico. A verificação do desempenho de serviços e a resolução de problemas diversos, como conectividade e integração de plataformas, também ocorrem mais facilmente.

As ferramentas disponíveis no mercado para monitoramento de sistemas e servidores permitem realizar uma análise nos processos e seus serviços de forma a identificar o mais cedo possível qualquer falha, buscando assim uma solução do problema antes mesmo que qualquer usuário possa ter notado. O monitoramento de serviços e ativos de rede é uma técnica que busca fazer um monitoramento ostensivo para que, quando houver um problema, os administradores de rede sejam os primeiros a serem notificados.

Neste contexto, o objetivo deste artigo é estabelecer uma análise sobre o monitoramento de redes de servidores e ativos de rede, comparando as ferramentas existentes no mercado como Nagios, The Dude e WhatsUP e estabelecer passos para configuração da ferramenta Nagios. Além disso, é feito um estudo de caso na instituição FAGOC – Faculdade Governador Ozanam Coelho, onde é utilizada a ferramenta de monitoramento Nagios para verificar os serviços de FTP (File Transfer Protocol, Protocolo de Transferência de Arquivos), SSH (Secure Shell), conexão dos servidores de e-mail e web.

Para alcançar os objetivos desse artigo, foi feito um estudo sobre as ferramentas de monitoramento de redes e feita uma comparação sobre os serviços e recursos que as ferramentas disponibilizam. Fazendo uma analogia das ferramentas, foram analisados os pontos fortes e pontos fracos de cada uma delas. Ao final, foi instalada a ferramenta Nagios 3.2.0 no sistema operacional Linux CentOs 5.0, e configurada para monitorar os servidores de e-mail, web, DNS (Domain Name System - Servidor de Nomes de Domínios) e LTSP (Linux Terminal Server Project).

Redes de computadores

O século XX foi um marco com o avanço no campo da informação. As pessoas buscam cada vez mais utilizar redes de computadores para se comunicar, armazenar e processar informações. Segundo Tanembaum, “uma rede de computadores pode oferecer um meio de comunicação altamente eficaz para funcionários que trabalham em locais muito distantes um do outro”. As redes, hoje, são fortemente usadas em todas as áreas e por diversas classes de pessoas, seja para uso pessoal, para ler um e-mail ou acessar algum serviço de alguma rede social, até uso empresarial, para servir dados e aplicações para funcionários.

A tecnologia utilizada para a construção de uma rede pode ser:

• ponto a ponto, que consiste em conexão de pares individuais de máquinas que se comunicam direto sem passar por um intermediário onde tem um emissor e um receptor de dados;

• multiponto, que permite a conexão de várias máquinas compartilhando entre todos os dispositivos de rede um meio de transmissão único, através do qual toda a informação é transmitida.

Quanto à abrangência, uma rede pode ser definida em redes locais, as chamadas LANs (Local Area Network), que compartilham recursos e são redes privadas. As LANs abrangem em média 10 km e são utilizadas para conectar servidores, estações, periféricos ou qualquer outro recurso de rede que possuem dispositivos de processamento em um escritório, casa, ou edifícios. Quando uma rede é mais ampla são denominadas MANs (Metropolitan Area Network ou redes metropolitanas), que abrangem uma cidade. Já as redes WANs (Wide Area Network), conhecidas como redes geograficamente distribuídas, podem abranger um país ou continente, e temos como principal exemplo a Internet.

Uma outra estrutura de rede que vem ganhando uma importância relativa é a rede sem fio (wireless), sendo cada vez mais utilizada em dispositivos móveis, smartphones e celulares. É uma conexão de rede utilizada mais para acesso a Internet em escritórios, bares, aeroportos, parques e até mesmo em casa.

Assim, temos que uma rede permite que diversos equipamentos e recursos possam ser interligados e compartilhados, dando acesso a protocolos e requisitos de segurança de forma a permitir que o usuário possa se beneficiar com a utilização de serviços de rede.

Na próxima seção são apresentados conceitos de ativos e serviços de rede. O entendimento destes conceitos é importante para o entendimento da tarefa de monitoramento discutida neste artigo.

Ativos e serviços de redes

Uma rede de computadores é formada por diversos tipos de equipamentos, como computadores, roteadores, switch e serviços de rede. Esses equipamentos e serviços podem ser monitorados dentro de uma rede, evitando assim falhas ou até mesmo que uma rede interrompa o seu funcionamento.

Um servidor na rede pode conter funcionalidades de diferentes naturezas. Alguns tipos de servidores/serviços de rede são:

• O servidor FTP: que é o servidor onde os usuários têm acesso a arquivos em rede;

• O servidor web: é responsável por aceitar pedidos HTTP (Hypertext Transfer Protocol) de clientes, servindo com páginas web e arquivos de site;

• O servidor DNS: que é responsável pela distribuição de nome de redes, convertendo nomes em IPs;

• O servidor de arquivos: que é responsável por armazenar arquivos de clientes;

• O servidor Webmail: que é responsável pelo envio/recebimento de contas eletrônicas e armazenamento de e-mails;

• O servidor de Proxy: que é o responsável pelo armazenamento dos endereços de sites acessados, funcionando como um cache.

Para interligar os computadores na rede é necessária a utilização de alguns dispositivos como o roteador e switch. Esse último responsável por criar um barramento de comunicação entre os diversos dispositivos de rede que podem estar presentes na estrutura.

O roteador é um dispositivo que tem como característica selecionar a rota mais apropriada para transferir e receber protocolos na rede. É utilizado para fazer a comunicação entre diferentes redes de computadores provendo a comunicação entre computadores distantes entre si.

Já o switch é um dispositivo utilizado em redes de computadores para reencaminhar quadros entre os diversos nós. Possuem diversas portas, assim como os hubs, e operam na camada acima dos hubs. A diferença é que ele segmenta a rede internamente, sendo que cada porta corresponde a um segmento diferente, o que significa que não haverá colisões entre os computadores de segmentos diferentes.

Alguns switches podem ser gerenciados de forma a permitir administrar as portas separadamente. O switch gerenciável normalmente tem outras funcionalidades, como a capacidade de criar VLANs (Virtual LAN), QoS (Quality of Service), firewall, entre outros. Assim é possível habilitar e desabilitar as portas, definir a velocidade da conexão, definir VLANs, configurar o spanning tree, e utilizar software de monitoramento que acessa o switch através de protocolos como o SNMP (Simple Network Management Procotol).

VLANS – Redes Locais Virtuais;

Spanning Tree Protocol (STP) – Protocolo para equipamento de rede que permite resolver problemas de loop em redes, determinando qual é o caminho mais eficiente entre cada segmento separado por switches.

Conhecendo as principais características de redes de computadores e de ativos e serviços de rede, definiremos na próxima seção o conceito de monitoramento de redes para que seja apresentada a ferramenta NAGIOS.

Monitoramento de redes

Ter um ambiente mapeado e monitorado é fundamental para o processo de crescimento de uma empresa. Já está mais do que comprovado que com um ambiente de TI bem planejado seu negócio tem mais chances de dar certo, mesmo para as empresas em que o principal foco não seja TI, pois todos dependem hoje da Internet e dos serviços que ela disponibiliza.

Assim, em um ambiente de rede é necessário considerar a eficácia no funcionamento dos equipamentos e serviços existentes. Com o aumento no uso das redes de computadores, aumentam também os problemas na rede, onde os usuários reclamam de acesso lento em horários de pico, indisponibilidade no sistema, problemas em downloads e em acessos em geral. É importante detectar qualquer problema na rede antes que o usuário possa notar a falha. Como é impossível evitar os problemas na rede, a melhor forma de resolver o impacto causado é através do monitoramento.

Monitorar rede é verificar o funcionamento de cada serviço e equipamento disponível. Para isso é necessário utilizar ferramentas que verificam o funcionamento adequado dos equipamentos e serviços, enviando relatórios e alertas aos administradores, prevenindo falhas, e fazendo com que sejam corrigidas antes que sejam notadas pelo usuário.

Ferramentas de monitoramento

As ferramentas de monitoramento de redes são utilizadas para que se possa ter um controle efetivo sobre todos os ativos nela disponíveis, verificando serviços e processos. Existem diversas ferramentas para fazer esse serviço e, para fazer sua implantação, é necessário verificar qual melhor atende às necessidades de cada estrutura de rede. Algumas opções conhecidas são The Dude, WhatsUP e Nagios, entre outras.

The Dude é uma ferramenta que faz a verificação automática de todos os dispositivos dentro de redes especificadas, desenha e faz o layout de mapas de rede, monitora serviços dos seus dispositivos e alerta em caso de problemas. É uma ferramenta gratuita e cumpre os objetivos simples de sistemas de gerenciamento de redes.

Já a ferramenta WhatsUP é um gerenciador e monitor de rede fácil de utilizar, permitindo a gerentes de TI transformar dados coletados da rede em informações estratégicas para seu negócio, como análise de tendência de planejamento de recursos estratégicos.

As ferramentas de gerenciamento The Dude e WhatsUP são similares nas suas funcionalidades. Destaca-se a ferramenta WhatsUP por possuir mais recursos e opções do que os disponíveis no The Dude, principalmente na forma de apresentar as informações que são disponibilizadas em vários tipos de relatórios e gráficos. A Figura 1 apresenta a interface de menu para acesso aos relatórios disponibilizados pelo WhatsUp, que são os relatórios do sistema, dos dispositivos, das áreas com problemas, dos grupos e de performance. Na Figura 2 são apresentados gráficos disponibilizados pela ferramenta The Dude mostrando informações da utilização de dispositivos.

Figura 1. Interface de relatório do WhatsUp.

Figura 2. Gráfico com informações da utilização de dispositivos com The Dude.

Em uma análise comparativa, ambas as ferramentas possuem uma interface simples que permitem acesso web, e são fáceis e intuitivas de operar para usuários acostumados com o ambiente de janelas, ícones e mouse. Além disso, possuem características diferentes quanto à organização dos menus, botões, além dos dispositivos gerenciados. O WhatsUP possui uma interface mais tradicional (Figura 3). Já o The Dude possui características diferentes quanto à organização das janelas e menus, o que não prejudica tanto a usabilidade (Figura 4). A interface padrão web do WhatsUP apresenta-se mais rica em opções do que o The Dude. Outra diferença entre essas ferramentas é que a WhatsUP é paga, enquanto a ferramenta The Dude é gratuita.

Figura 3. Interface principal do WhatsUp.

Figura 4. Interface principal do The Dude.

Outra ferramenta de monitoramento de redes muito utilizada é o Nagios, que monitora serviços de rede, recursos de computadores e equipamentos de rede. A próxima seção detalha o Nagios, relatando seus serviços e configuração.

Nagios

O Nagios é uma aplicação de monitoramento de redes de código aberto e licenciado pelo sistema GPL (General Public License) bastante popular. Ela permite monitorar tanto hosts quanto serviços, alertando-o quando ocorrerem problemas na rede. Ela é utilizada por administradores de redes para que possam ter um controle sobre os serviços e equipamentos de sua rede. Foi desenvolvida inicialmente para ser utilizada em sistemas operacionais Linux e, a partir da versão 3.0.4, já está sendo compatível com outros sistemas Unix.

O Nagios foi criado primeiramente com o nome de Netsaint, foi escrito e é atualmente mantido pela Ethan Galstad, e sua equipe de desenvolvedores é responsável por manter os plugins oficiais e não-oficiais. Ethan Galstad é o criador do projeto e um dos maiores mantenedores.

O Nagios busca uma forma prática de auxiliar os administradores de redes no processo de monitoração. As características principais do Nagios são: o monitoramento de serviços de rede como tráfego de dados de host e serviços que podem ser definidos pelo administrador da rede, além de monitorar serviços como SMTP (Simple Mail Transfer Protocol), POP3 (Post Office Protocol), HTTP (HyperText Transfer Protocol), NNTP (Network News Transfer Protocol), ICMP (Internet Control Message Protocol) e SNMP (Simple Network Management Protocol). O Nagios monitora também os recursos de servidores como logs do sistema, carga do processador, uso de memória e uso de disco.

Há uma infinidade de serviços que são monitorados por essa ferramenta, especialmente pela sua arquitetura baseada em plugins, onde qualquer administrador de rede pode desenvolver seu próprio plugin para monitorar qualquer particularidade de sua rede. Os plugins podem ser desenvolvidos em qualquer linguagem. Mas a grande maioria que existe é desenvolvido em perl e python.

A notificação dos possíveis problemas de rede é feita através de alertas enviados por e-mail, pager, SMS (Short Message Service), e outros meios definidos pelo administrador do sistema.

O serviço do Nagios é dado por algoritmos de verificação, podendo ser verificações simples como, por exemplo, o monitoramento via ping, ou monitoramento avançado podendo ser, neste caso, o monitoramento via o protocolo SNMP (Simple Network Management Protocol). Este protocolo permite que a máquina que está monitorando o host envie um OID (Object Identifier) para a máquina monitorada solicitando informações sobre o seu funcionamento. O protocolo então retorna a informação solicitada. O SNMP é o protocolo simples de gerência de rede que disponibiliza ao administrador da rede o acesso a diversas informações da máquina monitorada, entre elas: utilização de CPU, utilização de memória, configurações de rede, atividade de rede – download e upload –, usuários conectados, serviços ativos, entre outros. É possível ainda, na categoria de verificações avançadas, a utilização de plug-ins específicos que são disponibilizados em diversos sites especializados no assunto. Um exemplo é o site Nagios Exchange (http://exchange.nagios.org/), mantido pela empresa desenvolvedora do Nagios, que agrupa diversos plug-ins de seus usuários com diversas responsabilidades de monitoramento.

Os serviços de monitoração são feitos através de arquivos onde é definido o que será monitorado. A ferramenta já possui seus arquivos definidos, porém permite que o usuário crie modos próprios de monitoração. O principal arquivo da ferramenta é o nagios.cfg, que é onde está a configuração principal responsável pela operação do Nagios. Esse arquivo, por padrão, é criado automaticamente quando o Nagios é configurado. Outros arquivos também são necessários para o funcionamento da ferramenta, como o arquivo resource.cfg, que é utilizado para armazenar as variáveis que podem ser personalizadas com o objetivo de facilitar o acesso às chamadas aos plug-ins pela ferramenta. Já o arquivo services.cfg é utilizado para identificar os serviços que serão verificados e as métricas associadas a cada cliente monitorado.

A definição dos clientes que serão monitorados é feita no arquivo de cliente host.cfg, e esses clientes podem ser agrupados com o propósito de simplificar as notificações. O arquivo contacts.cfg define quem receberá a notificação caso a rede apresente algum problema ou restabeleça um serviço. Um ou mais contatos podem ser agrupados para receber as notificações dos clientes através do arquivo contactgroups.cfg.

Outros arquivos de configurações são o timeperiods.cfg, responsável pelo período de tempo em que será válido fazer as notificações e checagem dos serviços; e o commands.cfg, responsável pelas definições dos comandos a serem executados para monitoramento. Cada comando usado no parâmetro check_command dos hosts precisará estar configurado nesse arquivo.

Outro arquivo de configuração importante é o CGI.cfg, que é o arquivo de configuração das permissões de acesso dos usuários quando esta opção estiver ativa nas configurações principais.

O Nagios não possui interface para configuração na versão gratuita e nas versões CORE. A configuração é feita manualmente ao editar seus arquivos de configuração. Já na versão enterprise, a Nagios XI, toda e qualquer tipo de configuração pode ser feita pela sua interface. Existem outras ferramentas que fazem isso nas versões gratuitas, mas não são suportadas oficialmente pela desenvolvedora do Nagios. Um exemplo é o NagiosSQL (http://www.nagiosql.org/), uma ferramenta de administração web que possui uma interface que é definida após a instalação do Nagios para fazer a configuração do mesmo.

Antes de instalar e fazer a configuração do Nagios, é necessário preparar o ambiente em que será instalado. Como a aplicação irá gerar os arquivos CGI (Common Gateway Interface) para que a aplicação funcione perfeitamente, é necessário que esteja instalado um servidor Web, como o Apache, e algumas dependências como o compilador gcc (GNU Compiler Collection), e as bibliotecas GD (http://www.libgd.org/).

Em todas as versões do Nagios há uma interface Web informativa onde é possível acompanhar todo o monitoramento (Figura 5). Somente na versão enterprise estas interfaces se estendem para a manipulação dos arquivos de configuração. A interface das versões gratuitas é dividida em quatro partes: geral, monitoramento, relatórios e configuração.

Figura 5. Interface informativa do Nagios.

Na parte geral (General) da interface existem os campos home, que direciona para a página principal do Nagios, e o campo documentação (Documentation), que se refere à documentação da versão do Nagios que está sendo utilizada. Na parte monitoramento (Current Status) tem-se o resumo de serviços, de hosts, de configuração, de monitoramento e o status da rede. É possível também visualizar os serviços e os hosts monitorados, inclusive separados por grupos que foram definidos, além do estado de cada um. Ainda na parte de monitoração, é possível visualizar o mapa da rede, os serviços com problema, a evolução e andamento do Nagios, o relatório de cada cliente, e visualizar os problemas na rede em ordem de relevância e ver onde está a causa dos problemas.

Em relatórios (Reports) é possível visualizar o intervalo de duração de cada problema ocorrido, a porcentagem de tempo em que um host ou serviço esteve em funcionamento, o histograma de um host ou serviço, a lista de alertas e as notificações do dia, e o resumo de alertas, filtrando os alertas por horas, serviços e/ou grupos.

Por último, na parte de configuração (System), é possível visualizar as configurações, os clientes e grupos de clientes, as dependências, os serviços e grupos de serviços, os comandos, os períodos de tempo e o escalonamento de notificações.

Conhecida esta visão geral do Nagios, veremos agora como trabalhar com ele na prática.

Estudo de Caso

O estudo de caso aqui apresentado é composto da implantação da ferramenta Nagios para monitoramento dos serviços do servidor PANDORA na rede da instituição FAGOC – Faculdade Governador Ozanam Coelho. Neste estudo de caso iremos considerar o monitoramento dos serviços HTTP, MySQL e disponibilidade pelo retorno do ping.

Atualmente a FAGOC possui duas redes separadas fisicamente, rede administrativa e a rede acadêmica, conforme representado na Figura 6. A rede administrativa interliga todos os computadores dos setores administrativos (secretaria, diretores, departamento de pessoal, tesouraria, cobrança, sala dos professores, entre outros). A rede acadêmica interliga todos os ambientes acadêmicos como laboratórios de informática e biblioteca.

Figura 6. Rede administrativa e acadêmica da FAGOC.

A FAGOC possui atualmente 9 (nove) servidores principais que são:

• WWW – que hospeda o site www.fagoc.br, possui instalado o sistema operacional Linux, e é o servidor de hospedagem dos serviços Web. Nele funcionam os serviços de SSH e FTP;

• Mail – É o servidor de e-mail, configurado com cpnel e mailing, e trabalha com os serviços de SMTP, POP, IMAP;

• DNS – É o servidor que tem como função fazer a resolução de nomes na rede;

• Terminal Server – É o servidor de terminal para conexão das estações de cliente remoto;

• FagocNews – É o servidor de mailing utilizado para envio de notícias sobre a instituição e cursos;

• LTSP – É o servidor que possibilita o uso de um computador por vários terminais de acesso, onde todos os comandos rodam no servidor, mas a saída será exibida nas estações que são os thin clients;

• Router rede acadêmica – É responsável pelos serviços de redes como firewall, proxy, DHCP e LTSP. A configuração de ambas as redes são controladas por um servidor DHCP existente em cada uma das duas redes. Para adicionar um novo computador na rede, este deve ser cadastrado no servidor DHCP. Isso é necessário para diminuir o número de conflitos de IP e melhorar a administração e suporte da rede;

• Router rede administrativa – É responsável pelos serviços de redes como firewall, proxy e DHCP;

• PANDORA – É o servidor que possui o sistema acadêmico e administrativo da instituição, e é o servidor de banco de dados MySQL, onde estão configurados os serviços Web, SSH, HTTP e FTP.

O processo de configuração do Nagios pode ser demorado, mas é possível apenas com os arquivos de configuração de exemplo (instalados juntamente com a ferramenta) fazer com que ela fique ativa e funcionando. O Nagios possui uma documentação que é instalada junto com a ferramenta e pode ser acessada pela interface web para obter mais informações.

O objetivo principal para o monitoramento do Nagios é definido no arquivo de host.cfg. A seguir será mostrada a configuração deste arquivo e o acesso ao Nagios através de sua interface web.

O arquivo host.cfg apresenta a definição dos dados do servidor que será monitorado, conforme apresentado na Listagem 1. Os itens que devem ser configurados neste arquivo são:

Use – define o template padrão do host, no exemplo é utilizado o generic-host;

Host_name – define o nome da máquina monitorada;

Alias – define um apelido para a máquina monitorada;

Address – define o endereço de acesso;

Check_command – é o nome abreviado do comando que deverá ser usado para verificar se o cliente está funcionando ou não;

Max_check_attempts – é a diretiva usada para definir o número máximo de vezes que o programa irá checar pelo serviço até reportar um erro;

Notification_interval – é definido o tempo de espera para renotificar o contato sobre a situação do estado do cliente;

Notification_period – define o período de tempo no qual as notificações de eventos de um cliente podem ser envidas aos contatos;

Notification_options – utilizada para determinar quando a ferramenta poderá enviar notificações para o usuário administrador, onde d = enviar notificação em estados DOWN (inativo), u = enviar notificações em estados UNREACHABLE (inacessível), e r = enviar notificações nas recuperações, ou seja, quando o host volta a ficar ativo.

Contact_groups – define o grupo de contatos que receberão as notificações dos clientes.

Listagem 1. Host definido em host.cfg.


  define host{ 
          use                     generic-host     ; Name of host template to use
          host_name               pandora.fagoc.br
          alias                   pandora.fagoc.br
          address                 201.39.137.212
          check_command           check-host-alive
          max_check_attempts      10
          notification_interval   120
          notification_period     24x7
          notification_options    d,u,r
          contact_groups          admins
         } 

Após a configuração, o monitoramento pode ser acompanhado pelo acesso Web. Ao acessar o Nagios na interface web é possível obter as informações dos servidores configurados pelo menu da interface principal (Figura 5), que possui as opções geral (General), o menu para acesso às informações do monitoramento (Current Status), o menu de acesso aos relatórios (Reports) e o menu para visualizar as configurações (System).

Na interface principal, no menu Current Status, ao acessar a opção Services é exibido o nome do servidor (Host), os serviços que estão sendo monitorados (Service), a última verificação informando a data e a hora (Last Check), a duração da verificação (Duration), as tentativas de verificação (Attempt), além de informar o estado do serviço durante a verificação (Status Information), como representado na Figura 7.

Figura 7. Serviços monitorados pelo Nagios.

No Nagios, através do menu Reports, na opção Availability são apresentados os relatórios de disponibilidade dos hosts e ativos de redes (impressoras, switch). A Figura 8 mostra a visualização do relatório geral da disponibilidade do cliente, apresentando o tempo em que ficou ativo (UP), parado (DOWN) e inacessível (UNREACHABLE). No Host State Breakdowns, ainda na Figura 8, é possível ter um resumo do tempo de monitoramento dos serviços e o percentual de tempo do funcionamento dos serviços disponibilizados pelos servidores que estão sendo monitorados. Visualizando o relatório no período de 31 dias, foi possível verificar que nesse intervalo de funcionamento dos serviços do PANDORA, obteve-se 98.587% de disponibilidade, sendo que em 1,413% deste período os serviços ficaram parados e 0,000% inacessível.

Na opção de relatórios é possível ainda detalhar o estado de funcionamento do cliente/servidor. O relatório detalhado apresenta um gráfico com o status do servidor, por período, visualizando por data, hora e dia da semana, o tempo exato em que os servidores ficaram ativos, parados ou inacessíveis. A Figura 9 apresenta esse gráfico com o histórico do funcionamento do servidor PANDORA entre os dias 05 de outubro a 05 de novembro de 2009, onde é possível identificar nos dias 9 e 23 de outubro o período que o servidor obteve falha, ficando inativo. Quando há uma falha no servidor, é enviada uma notificação, de acordo com a configuração feita, por e-mail e SMS para o grupo de contatos especificados no contacts_groups, e o aviso informará o estado do cliente, podendo ser WARNING (aviso) ou CRITICAL (crítico), o tipo da notificação (Notification Type), o serviço que foi verificado (Service), o host e address do cliente, e seu estado (state), além da data e hora da verificação (Date/Time).

Figura 8. Relatório geral de disponibilidade.

Figura 9. Gráfico do histórico de funcionamento do PANDORA.

Cada serviço de um host ou ativo é monitorado separadamente. A Figura 10 apresenta o relatório de monitoração dos serviços, onde é mostrada a porcentagem referente ao tempo verificado, o tempo em que os serviços estiveram em estado ok, em estado de alerta, inacessível e em estado crítico.

Figura 10. Relatório de monitoração dos serviços.

Conclusões

Este artigo buscou apresentar a importância de monitorar redes e ativos de computadores. Grandes são os desafios para o gerenciamento de uma rede de dados e seus ativos, tendo como premissa a manutenção de sua disponibilidade. Assim, com a utilização de ferramentas de monitoramento, é possível acompanhar o comportamento dos serviços disponibilizados e manter o desempenho, disponibilidade e estabilidade num ambiente computacional, podendo evitar falhas e problemas na rede.

Vimos também que com o aumento na utilização das redes, um sistema de gerenciamento de redes torna-se cada vez mais indispensável. Entretanto, muitas vezes não se sabe qual seria a melhor solução que atenderia às suas necessidades devido às diferentes características de cada ferramenta. Todas elas tratam um único assunto que é ajudar a manter o bom funcionamento da rede, ou seja, melhorando a confiabilidade e segurança dos dados e recursos disponíveis aos usuários da mesma.

Por fim, vimos que o Nagios é uma ferramenta open source de monitoramento de redes que verifica constantemente a disponibilidade do serviço, seja local ou remoto, e avisa por meio de e-mail ou celular sobre o problema ocorrido. Além disso, é possível obter relatórios de disponibilidade e configurar ações corretivas para os problemas ocorridos na rede. Com a utilização do Nagios foi possível detectar problemas com serviços de rede mais rapidamente, identificando o que poderia afetar a disponibilidade do sistema utilizado pela instituição FAGOC de forma confiável, e obtendo relatórios com informações precisas, possibilitando acompanhar o funcionamento dos serviços e da rede como um todo.