O papa-léguas e o coiote

Crônica sobre dois perfis existentes em um projeto de desenvolvimento

 

Lembram do Papa-léguas? Creio que a grande maioria de nós sim, mas desenterrei essa lembrança para comentar dois comportamentos muito peculiares em projetos de desenvolvimento de software.

 

Só para lembrar, o Papa-léguas, vivia correndo freneticamente "sem destino algum" pelas estradas do deserto norte-americano, e o Coiote sempre vivia elaborando planos mirabolantes para capturá-lo, sempre gastando muito tempo e muito recurso para que com a ajuda das empresas ACME pudesse montar os mais improváveis e "revolucionários" instrumentos para servir como armadilha ao Papa-léguas. Porém, nunca o coiote teve sucesso em seus planos, pois o papa-léguas mais rápido e mais inteligente, sempre escapava do perverso coiote e ainda fazia que o invento funcionasse contra o próprio.

 

Bem, esse desenho bobo, que fez parte de minha infância, revela algumas observações interessantes, vejamos:


1) Por que o papa-léguas corria tanto? Onde ele queria chegar? (até hoje eu nunca descobri, alguém sabe?).

- Esse comportamento é análogo às carências de objetivos e definição, mesmo que sejam incrementais, em muitos projetos, fazendo com que todos os evolvidos "corram" feitos loucos para chegar a lugar nenhum.


2) O Coiote era um exímio planejador, porém um péssimo executor e testador.

- Os planos engraçados do coiote eram muito improváveis, isso mostra uma coragem muito grande em experimentar o novo, mas o grande problema eram a falta de testes de seus inventos, que já que eram colocadas em produção real, antes de ele fazer qualquer tipo de teste, aumentado assim, as chances para insucesso dos planos (o que sempre ocorria), e ainda revelando bugs inesperados que só se revelavam contra o próprio coiote.

3) - Apesar de ter os objetivos incertos, o papa-léguas através de sua agilidade, leveza, esperteza, e percepção, sempre tinha sucesso em escapar ileso do coiote.


4) - O mais engraçado é que ás vezes, começamos um projeto como o coiote, planejando, preparando, criando coisas novas, mas por motivos de prazo e custo estourados, terminamos o mesmo como o papa-léguas, tendo que correr freneticamente, atropelando processos, ignorando testes e remendando bugs.

Como conclusão, o coiote nunca pegou o papa-léguas, mas também o papa-léguas nunca chegou a lugar nenhum (Captaram?), ou seja, é extremamente maléfico ter apenas um dos perfis de ações em um projeto de software, o ideal é criarmos um "mutante" do papa-léguas com coiote, ou seja, uma espécie de meio termo entre o planejamento e a ação, sem ignorar a importância desses dois momentos. Dessa forma estaremos usando práticas sérias, dinâmicas e ágeis (isso me lembra XP!) para assegurar qualitativamente o sucesso de projetos na área de software.