Das séries que mais fizeram a minha cabeça nos anos 80 eu destacaria uma: MacGyver. MacGyver era um agente especial do governo americano que enfrentava situações de perigo usando apenas sua grande capacidade de improvisação. O cara era tão bom no improviso que se fosse o caso ele conseguiria transformar um clipe de papel em uma montanha russa! Haja criatividade...

Por isso sempre achei que esse seriado era inspirado no povo brasileiro. Afinal, ninguém, no mundo inteiro, é tão bom na arte da improvisação quanto o povo das bandas de cá. O problema é que de vez em quando esse traço marcante de nossa cultura recebe um rótulo, digamos, meio pejorativo: “jeitinho brasileiro”. O que é então o jeitinho brasileiro?

Jeitinho brasileiro é toda ação que tenta resolver uma situação de conflito transgredindo temporariamente algumas regras, não importando as questões morais envolvidas. Assim, trafegar pelo acostamento, entrar no estacionamento pela contramão, dar dinheiro para o guarda esquecer a multa ou furar uma fila são exemplos clássicos de ações impregnadas pelo espírito do jeitinho, que visa impor o que é conveniente sobre o que é certo. Em outras palavras, “o coletivo que se dane!”.

A boa notícia é que o jeitinho brasileiro é apenas o lado ruim da nossa capacidade inventiva. Alguém já disse que a criatividade do brasileiro é tão grande que se não for devidamente direcionada rumo à eficácia, será apenas eficiente em seus resultados. É o que acontece nas organizações, quando o jeitinho brasileiro se faz presente em suas rotinas.

Sabemos que há uma grande diferença entre ser eficiente e ser eficaz. Ser eficiente é alcançar os resultados não importando os meios envolvidos. Já ser eficaz é alcançar os resultados levando-se em conta a forma como serão alcançados. Em tempos de competitividade acirrada, organizações que agem focando apenas os resultados estarão dando um grande passo rumo à estagnação. Na ênfase restrita aos resultados, os meios acabam sendo desconsiderados e os objetivos finais são seriamente comprometidos. Gestões apenas eficientes, baseadas no jeitinho brasileiro, estimulam a irresponsabilidade administrativa e o improviso para alcançar as metas de qualquer maneira. Quem age assim muitas vezes age sem pesquisa, sem planejamento, sem profissionalismo e sem ética.

MacGyver sempre conseguiu alcançar bons resultados sendo apenas eficiente. O problema surgia, ele improvisava e pronto, tudo resolvido. Dava gosto de se vê o talento do cara. A questão é que é muito mais fácil ter sucesso sendo eficiente no mundo imaginário. Mas no mundo real, onde a competitividade exige por parte das corporações cada vez mais planejamento, especialização e comprometimento, sobreviver na base do improviso e do jeitinho brasileiro é como assistir ao seriado do MacGyver: dá até vontade de imitar, mas não passa de uma ficção.