'Superprofissionais'

 

Interrompendo por um momento, a série de artigos sobre segurança de infra-estrutura, vamos falar neste artigo sobre a divisão das tarefas nas atividades de TI.

 

São poucas as empresas que dividem de forma adequada as atividades na área de tecnologia, com funções bem definidas e diferenciadas.

 

O número de empresas que possuem profissionais específicos para cada área específica é ainda menor.

 

 

Voltando no tempo

 

Lembram dos 'antigos' CPDs?

 

Pois é, muitos sobrevivem até hoje.

 

Para quem não lembra, ou não teve o prazer de conhecê-los, os CPDs eram locais freqüentados, basicamente, por pessoas pouco sociáveis, de pouca conversa e menos amigos ainda, cercados por computadores e periféricos (funcionando ou não), ferramentas, etc.

 

De óculos e quase gênios, entendiam de tudo e mais um pouco sobre 'computadores'!

 

Podiam concertar desde calculadoras até computadores, impressoras, etc, passando por carrinhos de controle remoto.

 

Eram 'superprofissionais'!

 

Exagerando um pouco nas citações acima, fiz questão de lembrar dos CPDs apenas para mostrar que a visão a cerca dos profissionais de TI tem um antecedente histórico (se é que podemos assim dizer).

 

 

'Off-topic'

 

Falando sobre estes 'superprofissionais' dos CPDs, eu me lembrei das muitas cobranças que recebo por ser formado na área de tecnologia e trabalhar com computadores.

 

As pessoas 'normais' pensam que quem trabalha com computadores tem a obrigação de conhecer tudo sobre eles, independente da área em que atuam.

 

Se estes profissionais possuírem curso superior, a cobrança aumenta, e se possuírem especializações, pós-graduações, certificações... então é que a coisa aperta.

 

Quem nunca ouviu falar algo do tipo:

 

- Como pode você 'fulano', formado em Ciência da Computação, que vive fazendo cursos, trabalha o dia inteiro com isso, não conseguir arrumar a minha impressora?

 

- E este vírus que entrou na minha máquina, como é que você não consegue remover?

 

- Como você não conhece o software que o meu professor de informática (básica) me ensina?

 

- Como pode você não conseguir adicionar um vídeo na minha apresentação?

 

- Ou não saber concertar o meu dvd player (afinal é tudo a mesma coisa)?

 

Sem contar que precisamos saber de tudo isso, ajudar e não cobrar nada.

Se perguntarmos qualquer coisa ou pedirmos ajuda para um amigo advogado, médico ou dentista, eles não vão responder sem antes marcar uma consulta e cobrar por isso.

 

Agora, se este mesmo amigo (advogado, médico ou dentista), perguntar qualquer coisa sobre informática, computadores, etc, temos a obrigação de saber responder e ainda não cobrar nada por isso.

 

 

Tempos modernos

 

Essa visão continua até hoje, com algumas alterações, talvez não tão extremistas assim mas, mesmo que estas colocações pareçam bobas, guardadas as devidas proporções, isso ainda continua.

 

Nas atividades profissionais na área de TI, é comum haver um mesmo profissional que faz a análise de requisitos, planeja, gerencia o projeto, faz a modelagem do banco de dados, desenvolve, testa, implanta no cliente, dá treinamento e suporte.

 

Ou isso não acontece?

 

Ou ninguém agrega (ou já agregou) pelo menos três destas atividades?

 

Assim fica difícil fazer tudo bem feito, com a mesma qualidade e dedicação.

 

O fato é que muitas empresas buscam 'superprofissionais', que dominem tudo!

(E depois reclamam da falta de preparação dos candidatos às vagas...)

 

Lógico que os profissionais precisam ter visão global, ver o negócio como um todo e conhecer as diferentes áreas.

 

Eu não discuto isso aqui.

 

Mas eu penso que ninguém deveria ser 'obrigado' a dominar todas estas áreas.

 

Sei que desenvolvedores precisam conhecer bancos de dados, e administradores de dados precisam conhecer lógica de programação e os diferentes sistemas gerenciadores de bancos de dados, analistas e testadores também precisam conhecer estas áreas, DBAs precisam conhecer redes e sistemas operacionais, e por aí vai.

 

Isso é fato.

 

Penso também que este papel, de dar visão e conhecimento geral e abrangente, é das universidades, que deveriam trabalhar de forma mais interdisciplinar, fazendo interações entre disciplinas de banco de dados, análise e projetos, programação, redes, sistema operacionais, etc.

 

Se fosse  assim, teríamos profissionais com visão geral e prontos para escolherem uma determinada área e se aprofundarem nela, saindo das universidades prontinhos pra render nas empresas.

 

Do lado das empresas, o ideal seria que elas contratassem diferentes profissionais, capacitados para atuarem em diferentes áreas, trabalhando em equipe, mas cada um na sua área.

 

As empresas estão despertando para esta realidade e passam a ganhar em qualidade, sem contar na dedicação e comprometimento dos profissionais.

 

Com isso passa a ser mais fácil evitar, minimizar, identificar, localizar e solucionar problemas.

 

Mal comparando, imaginem se todos os médicos fossem clínicos-gerais!

 

Essa mudança começa de cima para baixo, das maiores para as menores empresas.

 

Mas, não se intimide em "bater o escanteio e correr na área para cabecear", se necessário for, pois muitos que viveram antes de você fizeram exatamente o mesmo.

 

 

Finalizando

 

Não quero passar aqui a idéia de especialização pura e simples, ou a individualização, restrição de conhecimento, etc.

 

Tenho apenas a intenção de passar a mensagem de que o conhecimento 'extra', de uma área que não é a principal, deveria ser visto como diferencial, mas não como pré-requisito ou exigência.

 

PS.: E gostaria também de compartilhar a incomodação de ter que ajudar a todos os conhecidos 'menos esclarecidos' sobre computadores, a instalar o sistema operacional, excluir vírus, instalar impressoras, mexer em planilhas de cálculo, criar apresentações formidáveis, instalar o home theater, mexer na câmera digital, celular, conhecer todos os sistemas do mundo, etc.

 

 

Anderson Rodrigo Farias

DBA Oracle

Betha Sistemas LTDA

http://www.betha.com.br