Use Case Point: Estimativas de Projeto – Parte 1
Use Case Point: Estimativas de Projeto – Parte 2
Artigo no estilo: Curso
Autores: Anderson Pinheiro Balbo, Wilson Vendramel e Maria Beatriz Felgar de Toledo
As empresas de informática desenvolvem seus projetos com base no prazo estipulado pelo cliente e no custo necessário para a produção de um determinado software.
O custo dos produtos fornecidos por essas empresas divergiu por muitos anos, pois até então não havia uma métrica para o cálculo do esforço humano na criação do software requerido. Não era levado em consideração o esforço empenhado para a construção do produto, por exemplo, e não havia fórmulas matemáticas suficientes à geração das estimativas.
Com isso, o software era vendido por um preço estipulado de forma superficial, sem que todos os critérios necessários fossem considerados.
Em 1981, em Software Engineering Economics, Dr. Barry Boehm forneceu parâmetros que contribuíssem para determinar o custo de software, apresentando o método COnstructive COst MOdel, conhecido como COCOMO.
Embora eficiente, esse modelo apresentou limitações quanto às abordagens orientadas a objetos, levando a adoção do modelo de Análise de Pontos de Função, pela IFPUG. O paradigma da contagem de linhas de código para medição deixou de ser o critério de contagem principal, e os projetos passaram a contar com as funcionalidades do sistema como fator de mensuração.
Em 1993, Karner apresentou o UCP (Use Case Points) como um novo conceito de medição, permitindo que as estimativas fossem levantadas desde a análise dos requisitos. Esse modelo tende a tornar-se um grande fator competitivo para as organizações, pois estas podem apresentar as estimativas de custo e prazo ao cliente com maior precisão antes mesmo do início do desenvolvimento. No estudo de caso apresentado neste artigo, o modelo utilizado para as medições será o Use Case Point.
A metodologia adotada para este estudo de caso é a análise dos dados atuais da empresa ABC e a entrevista com o seu responsável, de forma a obter as estimativas de custo. A entrevista é uma das mais importantes fontes de informação ao se compor um estudo de caso, pois apesar do risco de sua ambiguidade, quando bem elaborada direciona a dados objetivos.
Os resultados obtidos serão comparados com os já existentes, e sua precisão será analisada quanto ao cumprimento de prazo, custo e esforço; por fim, será verificada a sua viabilidade de aplicação.
Descrição da empresa do estudo de caso
O estudo de caso deste artigo foi baseado no sistema corporativo para automação e gestão de laboratórios - ABCLIMS, desenvolvido pela empresa de engenharia ABC, responsável também pela manutenção do sistema.
O ABCLIMS é hoje utilizado por mais de 500 profissionais em 40 diferentes laboratórios físico-químico, bacteriológico e hidrobiológico. A ABC vem oferecendo desde o ano de 1996 soluções em tecnologia para o setor laboratorial, destinadas às áreas de siderurgia, energia elétrica, meio ambiente, têxtil, gás e saneamento básico, a fim de atender às necessidades de seus clientes no controle de qualidade de água e esgoto, além da telemetria de processos e sistemas de produção.
O sistema ABCLIMS foi desenvolvido com base em modelos utilizados em diversos países onde há o controle de qualidade da água. O MPLA (Modelo de Processos de Laboratório de Análise) é o modelo que identifica os processos laboratoriais, conforme a Figura 1.
Figura 1. Modelo de Processos de Laboratório de Análise
ABCLIMS
O sistema a ser analisado, para estimativa neste estudo de caso, é um sistema para Automação e Gestão de Laboratórios Físico-químicos e Microbiológicos de Controle de Qualidade (Laboratory Information and Management System - LIMS), da ABC, denominado ABCLIMS. Esse sistema viabiliza a automatização da programação de coleta das amostras, coleta automática dos resultados das análises e gerenciamento de todas as atividades de todos os laboratórios. O controle da amostra é feito através do uso de código de barras, data e hora, instrumento, além da metodologia utilizada e o responsável pelas análises (ver Figura 2).
Figura 2. Elementos do controle de amostra para o ABCLIMS
Outra função do sistema é a viabilização da análise de qualidade da matéria-prima e dos produtos finais, além de permitir o rastreamento do processo.
O sistema ABCLIMS possui vários módulos, e os principais são: ABClab e ABCMaster, subsistemas responsáveis respectivamente por análises laboratoriais, e a correta utilização de metodologias e procedimentos de análise de qualidade da água.
ABClab
A função do ABClab é automatizar os processos de análise laboratorial, conectando-se aos instrumentos de análise de modo que os resultados gerados nestes sejam enviados diretamente para o sistema.
Entre as informações vinculadas aos resultados, estão os responsáveis pela coleta da amostra, as condições de campo, recepção da amostra no laboratório, identificação do instrumento e método utilizado, e o responsável pela análise.
Também são extraídas informações sobre as condições de aferição dos instrumentos, controle dos limites de detecção dos instrumentos, validade e identificação dos reagentes provenientes da análise, condições de aferição e identificação das vidrarias usadas na análise, e a conformidade dos resultados aferidos.
O ABClab possui uma interface simples com o usuário (ver Figura 3), e um conjunto apropriado de funcionalidades para a coleta e verificação dos resultados das análises, atendendo às exigências de normas de qualidade como a ISO-17025, que determina os requisitos exigíveis aos laboratórios de ensaio e calibração.
Figura 3. Interface do sistema ABCLIMS - ABClab
Os dados para análise são recebidos através do PocketLab, que é o sistema instalado nos microcomputadores de bolso, utilizados pelos analistas para coleta eficaz dos dados, sem que haja a necessidade de anotação em papel, possibilitando que tais dados sejam transferidos quando o PocketLab está conectado com o ABCMaster.
ABCMaster
O módulo ABCMaster conta com as opções de Cadastro, Supervisão e Relatórios. O Gerador de relatórios permite que o usuário configure relatórios do gênero qualitativo, quantitativo, além de laudos, balanços das análises, resultados, log de acesso e operações (ver Figura 4). Há diversas opções de filtragem das opções, possibilitando ao gestor a análise dos resultados por diferentes ângulos.
Figura 4. Interface do ABCMaster
O Cadastro conta com sessenta telas de cadastro e configuração, e permite definir características de análise, fórmulas, algoritmos, instrumentos, vidraria, reagentes, direitos de acesso aos usuários, grupo de análises, normas, regulamentações governamentais, áreas, equipe de trabalho, clientes e fornecedores, entre outros (ver Tabela 1).
Opção de Cadastro |
Itens de Cadastro |
Cadastro Geral |
Análise, Grupos de Análise, Fórmulas e Algoritmos de Cálculo. |
Instrumentos, Métodos Analíticos. |
|
Interfaces com os Instrumentos, Bancada e Laboratórios. |
|
EPIs e Carta Controle (CEP). |
|
Observações e Grupos de Observações. |
|
Amostragem: Embalagens, Frascos e Preservações. |
|
Produtos Químicos, Reagentes, Vidrarias e Grupos de Vidrarias. |
|
Clientes, Fornecedores e Ramos de Atividades. |
|
Usuários, Cargos, Funções, Atribuições e Direitos de Acesso por Menu. |
|
Organograma empresarial com níveis hierárquicos. |
|
Produtos (matéria-prima e acabados) e Pontos de Coleta. |
|
Pontos de Coleta |
Área de recepção e amostragem de matérias-primas. |
Almoxarifados e depósitos específicos. |
|
Pontos de processo produtivo. |
|
Área, Reator, Embaladora, etc. |
|
Mensagens e Alarmes de desvios e anomalias. |
|
Normas, Regulamentações e Necessidades do Cliente |
Órgãos de Regulamentação e Normalização (oficiais e internos). |
Regulamentações e Normas (USEPA, AOAC, GLP, ISO, USP, ABNT, ASTM, etc.). |
|
Usuários e Grupos de Usuários com diferentes Direitos de Acesso, por item de Menu. |
|
Administrativo |
Cargos e Atribuições. |
Programa de Treinamento. |
|
Organograma da Empresa. |
Tabela 1. Funcionalidades do Cadastro do sistema ABCLIMS
A Supervisão oferece recursos para a gestão da capacidade dos laboratórios e a emissão dos relatórios gerenciais com opções de filtros avançados, assim como suporta a verificação dos resultados das análises e a solicitação de novas análises, se for o caso. Também trata da distribuição das informações ao longo da empresa, controlando e restringindo o acesso dos usuários de acordo com as suas responsabilidades. Quando integrado ao ABClab, o ABCMaster oferece as vantagens exibidas na Tabela 2.
Nº |
Vantagens da integração do ABCMaster com o ABClab |
1 |
Acelera todo o processo de coleta dos resultados das análises. |
2 |
Os resultados das análises são gravados diretamente no Servidor de Arquivos. |
3 |
As tarefas são agendadas, com as amostras a serem analisadas. |
4 |
Possibilidade de escolha da amostra em uma lista na tela, que possui somente as amostras permitidas. |
5 |
Aumento da confiabilidade e agilidade do processo |
6 |
Possibilidade de utilização de microcomputadores. |
7 |
Utilização da mesma interface (Windows) por parte de todos os funcionários da empresa. |
8 |
Distribuição das tarefas no laboratório. |
9 |
Organização e sistematização na realização das análises. |
10 |
Redução da quantidade de relatórios impressos. |
11 |
Agilização dos processos de consulta. |
Tabela 2. Vantagens da integração do ABCMaster com o ABClab
Relatório de entrevista inicial
Além do estudo do sistema ABCLIMS e dos seus módulos, para a elaboração do estudo de caso também foi realizada entrevista com o responsável pela empresa ABC. Com base nas respostas fornecidas pelo representante da ABC, foi possível esclarecer algumas informações que contribuem para o direcionamento e entendimento do negócio. Portanto, essa entrevista tem a finalidade de auxiliar nos estudos da empresa.
Em primeiro lugar, a ABC conta com uma metodologia própria de desenvolvimento. Essa afirmação pôde ser constatada ao analisar o processo atual, reforçando a necessidade de adaptações nesse processo por parte do seu representante, que atendam às necessidades das estimativas, e que o torne aderente aos processos de melhoria de software, como o MPS.BR, por exemplo.
Contudo, a empresa conta com a atividade de levantamento de requisitos, o que constitui parcialmente uma disciplina do RUP, através de entrevistas nos locais onde estão os clientes, e da elaboração da Especificação de Requisitos Funcionais.
Entre as respostas fornecidas pelo gestor, aquela que melhor se adapta à realidade deste estudo de caso refere-se ao fator de produtividade. Uma vez afirmado que não há o cálculo para esse fator, pode-se considerar que a empresa tem como base a sua experiência na mensuração da produtividade para a realização de projetos.
Além ...
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